segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A Carta escrita há muito que nunca leste e já não faz sentido

Às vezes gostava que não fosse.
É como é. Não será de ser assim. (eu espero). Desculpa-me os espasmos melódicos do que escrevo, mas a necessidade é crescente. Não sei bem do quê, mas é. Algo grande que me esmaga, me deixa pequena. E dói. Dói bastante. Odeio distúrbios emocionais, mas pareço não ser feita de outra coisa. E “mas” mais uma vez. É tão ridículo. Nem sei por que escrevo. É um problema de expressão, bem o sei. Queria que não fosse assim. Que fosse tudo mais simples. Sem tantos momentos de “não-sentir”. Acho que quero sentir menos e durante períodos mais alargados. Quero fechar os olhos e ver lugares distantes, idealizados por nós. Porque tudo não existe sem nós. Dupla negação. Positivo. Balelas. E escrevo, balelas. Hei-de conseguir escrever uma página sem deixar cair uma lágrima. Para ti. Por ti. Tenho sido fraca. Sou fraca. Não sei lidar com as pessoas nem com as coisas. Nem sequer lhes chego à essência que antes se mostrava. Talvez só uma essência importe, agora. A minha, não. A tua. Essência que anseio descobrir. Será como uma fonte de algo imaginário que se assemelha à perfeição. Não à tua. À minha. A minha perfeição para o mundo, a minha “equação que resume a “x” o significado da existência”, esconde-se, ou protege-se, em ti, disfarçada de uma certa timidez traduzida em mordidas acres de arrogância. Bem tento escrever de forma bonita e apercebo-me que embelezar um texto ajuda a não chorar. Pensamentos elaborados distorcem a sinceridade das opiniões. Para quem desconhece a realidade, julgá-los-á bastante sensíveis e emocionais. Para quem detiver o poder da verdade, saberá que na realidade as articulações bonitas só servem para atenuar o que ambiciosamente corre no nosso corpo e procede à metamorfose inconsciente. É nesse estado que escrevo. Estado de transição. Balançando entre a frieza calculista e o estado de psicose. Só assim sustenho as lágrimas que ameaçam borratar a maquilhagem que não uso. Não hoje. Hoje limpo-me. Lavo-me dessa magia transformadora. Cuspo-a. Hoje quero ser eu. (e elas querem escorrer). Que por meros segundos seja. Não quero a metamorfose, muito menos explorar as entranhas da minha anormal psique. A frieza, sacralizo-a para os momentos de rua. Para quando estou contigo. Quero não mais chorar. Não o mereces. Não o queres. Não faz sentido. Como o que hoje escrevo. Nada faz sentido. Não sei se um dia fez ou fará, mas hoje não. Porque hoje me sinto… não me toco mas sinto-me num estado de vigília dissimulado pelo cansaço. Surreal. Talvez seja isso. Hoje sou puro fruto do surrealismo. Um misto de sonho com todos os meus obscuros desejos iluminados pelo que escrevo. Surreal. Para além do real. Transcendente se assim eu o quiser. E tudo o que escrevo são balelas porque só eu entendo as frases articuladas sem discurso lógico. Desconexão. Como eu. Puro vórtice de confusões internas e conflitos apaziguados pela tua voz. Só. Quando mais ninguém sussurra. Quando no escuro prevalece a tua respiração profunda. E eu não me sinto lá. Sinto-me debaixo da cama a combater o monstro que lá se esconde para me assustar quando desapareces. Se neste quarto estás, tudo varia. O teu corpo “deitado” ao abandono na cama preenche as respostas que nunca descobrirei. São as partes de ti que nunca conhecerei mas que são minhas também quando estou contigo. É essa força interior, essa perfeição da tua essência. As tuas duas constituintes, a que conheces e a que tu mesmo não conheces. Não sei explicar. Continuo a embrulhar-me em novelos de palavras sem nada dizer. Com o tempo pensava que as coisas ficavam mais simples, mas desengane-se quem assim pensa também. O tempo é mais complexo. Se quiserem, é tão difícil como saber por que razão existe ou não deus. E se deus for tempo? A dificuldade assenta no facto de existirem falhas no ser humano que o impedem de ler para além do que lhe é mostrado. Acho que devia parar. Mas, e enquadrando-se no meu tempo em que tudo se autonomiza, também as minhas mãos o fazem e insistem em pressionar as pequenas teclas de aparência cúbica que ocupam todo o espaço da placa que se estende a sua frente. E se agora falássemos de sexo? Do sexo. Masculino. Feminino. Balelas outra vez. A isto chamavam os dadaístas de escrita automática (ou não, mesmo.). A sua influência provinha da psicanálise de Freud. E não, eu não estou a fugir ao assunto. Porque o mesmo Freud dizia que o ser humano já “nasce” corrompido e de inocente nada tem. Alegava ele que o todo que nos compõe, física e psicologicamente se automatiza e reage segundo estímulos sexuais. Acho que só estou a referir isto porque realmente admiro este senhor. Chega de sexo. Volto-me (novamente, se assim parecer) a ti, meu amor. Enquanto for “meu amor” não será “bebezinho” como chamava Pessoa a Ofélia. Agora que releio o que escrevi, percebo que nada importa na maneira como te trato. “A cidade está deserta e alguém escreveu o teu nome em toda a parte, nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas… essa palavra repetida ao expoente da loucura. Ora amarga. Ora doce. Para nos lembrar que o amor é uma doença, quando nele julgamos ver a nossa cura”. Não sei até que ponto concordo que o amor seja uma doença mas se o for quero então estar em permanente estado de doença avançada. E se este é o expoente da loucura, abaixo Moliére! Abaixo ele e o seu doente de cisma, abaixo ele e a esquizofrenia. Mas não deixem morrer a sua morte verdadeiramente encenada para o fim glorioso do amante que falece pelo seu amor. É aí que está toda a beleza das coisas. Amor = Doença. Morte = Eterno Amor. A loucura dos amantes não se fica apenas por Shakespeare e Romeu e Julieta. A verdadeira loucura passional será a minha. A que um dia farei para que todo o amor se alie à paixão no fogo eterno. Na transposição do mudo terreno para o NOSSO mundo. Seremos a Fénix e possuiremos a pedra filosofal do nosso tempo. O nosso amor perdurará por tempos desconhecidos onde ficará sempre o teu perfume doce aliado a minha fraca presença, pois se magnificência existe, a ti pertence. A ti e a toda a tua perfeição. A ti e a cada retalho teu, que adoro. A minha loucura és tu e não o amor. A minha obsessão és tu. O meu desejo és tu. A minha voz és tu. A minha vontade és eternamente tu. Chamem-me Blimunda, não quero saber. Mas serás Baltasar. E a minha vontade és tu. Tanta merda que já escrevi em tão pouco tempo. A linha de sentido perdeu-se há muito. Se escrevo e me refiro, falo de um ser que fui e já não sou. Mas é um registo autobiográfico. Nega-se constantemente à medida que me renovo. E nunca sou a mesma. Desculpa.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A queda implora as luzes faíscantes.
É fluorescente o tempo perdido nos passados glamorosos.
O nevoeiro sombrio perturba o real absorvido
Em momentos de ternuras enclausurdas em caixas quadradas de memórias.
São navalhas encerradas nas feridas dos corpos dormentes.
No meu corpo.
Ou na minha alma.
Visto o vestido negro, rendilhado de arames que rasgam a minha carne já em decomposição.
Arde na fogueira do esquecimento a resistente felicidade (?).
A paixão corroi o ser,
Desmembra as pesadas noções de vida.
As setas esvoaçam a meu peito mirado:
Eu vou cair,
Eu vou sangrar.
As lágrimas perduram na existência de nós
Que marchamos sob o som da guerra aliciante
De vitória já perdida.
Caminhamos em direcção ao vazio
Enquanto entoamos cânticos ruidosos
Na esperança de alcançar a outra vida.
Mas resta-nos a verdade.
A morte.
E os corpos afogados no dilúvio das lágrimas derramadas.