quarta-feira, 24 de março de 2010

eu não sou uma ausência, sou um luto inteiro.

morrer no morto, ou chover no molhado, vai dar tudo ao mesmo.

se continuo a morrer no já morto, é como chover no molhado. e não consigo deixar a casa antiga. a culpa é dos amores. acho que odeio tudo ao mesmo tempo, pelo amor que lhes sinto. a minha avó dizia que já nada era como antigamente. começo a dar-lhe razão. se calhar estou a envelhecer. se calhar, não, estou mesmo! e não gosto. mas não há gentes como antigamente, nem conversas como antigamente, quanto mais silêncios como antigamente!! nos velhos tempos em que era a minha voz cerrada contra as vozes de uma razão que eu sorvia, e depois ia repetir. pelo menos eram coisas novas, antigamente. hoje as gentes são um tédio e dão-me um lugar ao lado da presunção. água benta, só no tempo do antigamente, em que a bebia das tuas palavras. estou a envelhecer e a ficar aborrecida. será que é assim que os mais-velhos, aqueles a quem chamamos Sr./a , donos da sapiência da experiência da vida, de forma bem mais aguçada, se sentem? entediados? custa-me achar que perdi a capacidade de me surpreender, porque sei que ainda me falta um (um, dois, três...) mundo inteiro. se assim for, sou triste a partir de agora! e vou continuar a morrer. e enquanto eu estiver a morrer na morte, ou a chover no molhado, vou ter que voltar à casa velha, quanto mais não seja para ir mudando as flores da campa, que de putrefacção já chega o hoje, que a saudade fica é do antigamente.

e tu, outra, larga o esparguete al dente e vem dançar comigo.

até breve.